domingo, 7 de julho de 2013

Quem inventou a bengala branca?

Iniciando descrição da imagem...Desenho estilizado com a silhueta de um homem estalando os dedos da mão direita. Sob sua cabeça uma lâmpada acesa. Iniciando texto...
A bengala branca é sem dúvida um dos principais meios de
acessibilidade e o mais importante recurso de mobilidade para o
deficiente visual, tornando-o independente e trazendo a segurança
necessária no seu dia a dia.

Em muitos casos o uso da bengala é o resultado de um processo de reabilitação ou habilitação
em instituições especializadas no assunto. Após este processo a bengala
fará parte do deficiente visual como se fosse um membro ou algo
parecido.

Com tanta importância na vida do deficiente visual me pergunto e não é de hoje, quem inventou a bengala branca?
Perguntei aqui e ali e ninguém soube me responder. O meu consolo? Não
ser a única ignorante no assunto. Mas a curiosidade continuou: quem
inventou a bengala? Quem teve a brilhante ideia de usá-la pela primeira
vez? QUEM?

A surpresa da descoberta
Descobri o óbvio, desde sempre, desde os tempos bíblicos a humanidade já usava um bastão, vara, cajado... essas palavras lhe são familiares? É claro que são, quem nunca ouviu falar do cajado de Moisés abrindo o mar para que os judeus escapassem dos egípcios?

A gente só se dá conta de que era uma bengala quando pensa no
assunto, pois ele o usava em suas andanças pelo deserto, inclusive para
pastorear as ovelhas assim como tantos outros que desvendavam os
mistérios de terrenos bem acidentados como os do deserto com o auxílio
de um cajado.

Iniciando descrição da imagem...Ilustração em tons de cinza de Moisés segurando um cajado. Retornando ao texto...
Se pensarmos um pouco mais, nos daremos conta de que reis, papas e imperadores também usavam e usam um cajado, vara, bengala ou cetro,
que fica mais bonitinho, além de lhes conferir realeza e dignidade,
aliás, podemos pensar nisso com mais cuidado, afinal a realeza é para
poucos, mas a dignidade é direito de todos.

Se olharmos historicamente para a humanidade, veremos que em muitos
momentos as pessoas usavam bastões ou varas como um prolongamento do
braço para desse modo desvendar os obstáculos do espaço à sua frente.

Então, voltando à literatura histórica e bíblica há mais de uma
passagem onde se fala do cajado e ela sempre estava nas mãos de homens
mais velhos, logo, homens com alguma dificuldade visual ou física por conta da idade. Em outros registros em gravuras, nota-se o uso de bastões ou cajados por pessoas cegas.

Há registros dando conta de que pessoas cegas também se utilizavam da
companhia de cães, claro que tudo era feito na base da intuição ou
improvisação. Fica claro então, que terrenos inapropriados impunham aos
cegos a companhia de guias videntes ou a reclusão no ambiente do lar
quando não, em depósitos de gente estranha e diferente.

É bom lembrar que esse estigma nos acompanhou até bem pouco tempo,
embora ainda nos dias de hoje não seja incomum encontrar alguém que
tenha ouvido uma dessas frases: "o que esse cego está fazendo na rua?",
ou "devia ficar em casa!". Aposto que alguém conhece alguém que já
ouviu algo semelhante.

Avançando no tempo
Os tempos mudaram as mentalidades também e graças a isso, escolas para cegos foram abertas e a criação do sistema braille
possibilitou a proximidade dos cegos com as letras, a aritmética ou
matemática, a história e todas as ciências, ou seja, os cegos tinham
para onde ir e onde se instruir, o que lhes faltava era um meio bom e
seguro para fazer essa locomoção.

Na primeira metade do século XX, a volta para casa de soldados cegos,
europeus e norte-americanos, depois da primeira e segunda grande
guerra, provocou o desejo de se fazer algo para a inserção desses
soldados na sociedade, logo perceberam que a locomoção segura e
independente seria o primeiro passo nessa direção e a partir dos avanços
das tecnologias e das iniciativas da época, a história individual e
social da vida dos deficientes visuais mudou radicalmente.

Avanços que mudaram a história dos deficientes visuais até aquele momento
1784 – a criação de escola para cegos, iniciada por Valentin Haüy;
1825 – invenção do Sistema Braille por Louis Braille;
1930 – primeira providência no sentido de serem
usadas bengalas brancas com extremidade inferior vermelha, para
identificar seu portador, suscitar eventuais ajudas pelos pedestres
videntes e alertar os condutores de veículos, foi de George Benham,
presidente do Lion's Club do estado de Illinois, Estados Unidos;
1930 – o Lions Club Peoria Illinois (EUA),
apresentou uma proposta de lei que após ser aprovada foi chamada Lei da
Bengala Branca. Dava prioridade no trânsito ao deficiente visual que
portasse uma bengala branca;
1940 – o norte-americano, Dr. Richard Hoover
(1915-1986), professor especializado no ensino de cegos, engajado na
reabilitação de militares deficientes, desenvolveu técnicas específicas
de locomoção e criou um modelo padronizado de bengala longa, hoje
universalmente adotados;
1970 – foi instituído o dia Internacional da
Bengala Branca de Segurança ("International White Cane Safety Day"), sob
iniciativa da Federação Internacional dos Cegos ("International
Federation of the Blind"), em Paris. Muitos países comemoram esta data
como meio de divulgar as conquistas das pessoas cegas no exercício de
seu direito de locomoção em espaços sejam eles públicos ou privados;
1964 – a Federação Nacional dos Cegos dos Estados
Unidos ("National Federation of the Blind" -- NFB), sob a liderança de
seu presidente, Dr. Jacobus tenBroek (1911-1968), em campanha nacional,
obteve do Congresso norte-americano, a Resolução HR 753, que autoriza o
Presidente dos Estados Unidos a proclamar anualmente o dia 15 de outubro
como o "Dia da Bengala Branca de Segurança", cujo primeiro ato foi
assinado em outubro daquele ano pelo presidente Lyndon Johnson.
O Dr. tenBroek, cego desde tenra idade, brilhante professor
universitário, elaborou um modelo de lei sobre a Bengala Branca, que em
seu primeiro artigo estabelece:
"É política deste Estado
estimular e capacitar os cegos, os deficientes da visão e os deficientes
físicos a participar plenamente da vida social e econômica do Estado e
serem aproveitados em atividades remuneradas".

Essa é a realidade dos norte-americanos, pelo menos em tese, não
conhecemos a realidade deles de fato, mas sabemos que no Brasil, com
exceção dos que ainda têm vergonha, a vergonha faz parte do processo de
muitos assim como outros motivos, veja o que a Marly Solanowski nos conta em seu depoimento que é bem interessante, a bengala é amplamente usada pelos deficientes visuais.

Brasileiro cria bengala eletrônica

Brasileiro cria bengala eletrônica de baixo custo para deficientes visuais
Estudante inventou protótipo para trabalho de conclusão de curso.
Dois sensores vibram quando há obstáculos acima ou abaixo da cintura.

Guimarães criou o protótipo da bengala para seu
trabalho de conclusão de curso (Foto: Divulgação)
O estudante universitário Carlos Solon Guimarães criou um protótipo de bengala eletrônica de baixo custo com dois sensores que avisa o deficiente visual quando há algum obstáculo a um metro de distância. Cada um dos sensores – o mesmo usado em celulares – é programado para vibrar quando há um objeto acima ou abaixo da cintura.

“Quando ambos balançam quer dizer que o obstáculo é grande”, explica Guimarães, que criou o protótipo para o seu trabalho de conclusão no curso de Ciência da Computação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), no Rio Grande do Sul.

Nos Estados Unidos, já existe uma versão de bengala eletrônica vendida por US$ 1,4 mil. No Brasil, outro estudante criou um aparelho parecido, mas que conta apenas com um sensor e sai por R$ 500. “Só a parte eletrônica do meu protótipo, com componentes comprados no Brasil, custa R$ 225, sem contar a bengala”, diz Guimarães, que uso apenas softwares e hardwares de código aberto, ou seja, que qualquer pessoa pode usar e alterar sem pagar nada.

“A bengala foi feita com equipamentos de baixo custo. Isso não quer dizer que ele usou lixo eletrônico. Ele apenas aproveitou tecnologias abertas para fazer a bengala”, explica o professor Carlos Oberdan Rolim, corientador do aluno.
A ideia de Guimarães surgiu por meio de projetos da universidade que buscam alternativas para deficientes visuais. “Ele viu a possibilidade de desenvolver um projeto para que os deficientes não precisem mais ficar cutucando o solo para saber onde estão”, completa o professor.

Como a formatura de Guimarães está marcada para dezembro, ele ainda pretende melhorar o protótipo e estuda como a bengala será colocada no mercado. “Ainda não sei se será uma bengala fixa ao sensor ou adaptada. Espero conseguir investidores e vendê-la por, no máximo, R$ 300”, diz o estudante.

“O trabalho ainda não foi concluído, mas está bem adiantado. A ideia é ter uma bengala realmente formada. O protótipo é feito com canos PVC, por exemplo. Também pensamos em, no futuro, criar um kit para que o deficiente conecte os sensores a sua bengala”, explica o professor Rolim.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A bengala como símbolo e auxiliar

Já na Antiguidade as pessoas cegas usavam a bengala como auxiliar de orientação e como apoio. Por isso ela em breve se tornou uma espécie de braço prolongado do não-vidente. Quando o trânsito automóvel começou a constituir um perigo para este, a bengala teve de se transformar num sinal: «Cuidado! Vem aí alguém que não te vê!»
E para que o cego pudesse ser notado a tempo, era preciso começar por tornar a bengala mais visível: passou a ser branca. Quem teve essa ideia de longo alcance foi a condessa Guilly Herbemont, que em 1931 perante entidades públicas em Paris presenteou pessoas cegas com 100 bengalas brancas. A bengala branca transformou-se no distintivo dos cegos, não tardando a assumir a função de sinal de trânsito protector para maior segurança destes enquanto peões.

Do bastão à bengala comprida
O bastão não passou ainda totalmente de moda, uma vez que as pessoas idosas precisam dele para se apoiarem enquanto caminham. Também a bengala branca curta ainda tem amigos entre os cegos e os grandes deficientes visuais, mas em geral só se tira do bolso em situações críticas ou como distintivo.
O verdadeiro auxiliar da mobilidade é a bengala branca comprida. O seu comprimento depende da altura do utilizador: assente verticalmente no chão, deve dar-lhe aproximadamente pelo esterno. Durante a marcha é segura inclinada para baixo à frente do corpo, a fim de tactear o caminho. Movimentando-a como um pêndulo para a esquerda e para a direita o seu utilizador dá sempre o passo seguinte com segurança.
No entanto, a marcha com este «detector de obstáculos» tem de ser bem aprendida e treinada. Há quase 40 anos que os cegos e amblíopes podem frequentar aulas de orientação e mobilidade, ministradas por técnicos de reabilitação com formação específica.

Nem só a bengala facilita a mobilidade
O grau de autonomia que a pessoa cega ou amblíope precisa adquirir, bem como as suas capacidades e aptidões pessoais, determinam o programa do curso. Assim, enquanto a um sujeito basta orientar-se dentro da própria casa, outro tem de usar a bengala para ir às compras ou para atravessar cruzamentos movimentados em grandes cidades. Em todos estes casos é importante manusear a bengala de harmonia com a situação e com segurança. Se o reabilitando não possuir conhecimentos prévios suficientes sobre a arquitectura da cidade e a estrutura do trânsito, eles têm de lhe ser transmitidos, pois só assim chegará a uma mobilidade confiante e eficiente com atitudes adequadas.
Para que este objectivo seja atingido, o ensino é sempre individual. Comporta em regra cerca de 100 aulas. Factores como a idade, a experiência prévia, o tipo da deficiência (cegueira congénita ou tardia, total ou baixa visão), a necessidade, a constituição psíquica e física, a actividade profissional e muitos outros podem alterar o número de aulas para mais ou para menos. A par das diversas técnicas de bengala são ensinados requisitos básicos para a mobilidade, a saber: percepção do corpo, noção de tempo, concepção espacial (elaboração de um «mapa mental»), bem como o relacionamento com os demais transeuntes, designadamente como pedir informações.
Quando falta o sentido da visão, urge estimular de forma especial os outros sentidos, pois mesmo sem a possibilidade de ver tem de ser percepcionado e correctamente interpretado o maior número possível de informações do ambiente circundante a fim de, a partir daí, ser estudado o modo como o cego ou deficiente visual deve agir enquanto transeunte, de acordo com a situação.

Bengala e concentração
Ao atravessar uma rua, por exemplo, as pessoas cegas e de visão reduzida têm de se concentrar imenso para poderem perceber e avaliar a situação do trânsito através dos sons. Ruídos diversos vindos de várias direcções e transeuntes «silenciosos» como ciclistas e «skaters» tornam-lhes ainda mais difícil adquirir a necessária segurança para atravessar a faixa de rodagem. Muitos deficientes visuais assinalam esta fase da espera puxando a bengala para si ou colocando-a direita à sua frente.
A introdução de semáforos sonoros veio facilitar muito a travessia das ruas: o cego pode reconhecer com precisão e clareza quando está verde para peões. Na ausência destes semáforos ele é forçado a deduzir essa informação com base no fluir do trânsito. Mesmo quando guiado pelo seu cão tem de lhe dar sinal para atravessar, pois os cães são cegos a cores e portanto não reconhecem o sinal verde.

Bengala com pilhas ou um auxiliar de quatro patas?
Existem diversas saídas para compensar os inconvenientes da bengala. O maior de todos é que com ela o cego não se apercebe de obstáculos situados à altura da cabeça. Existem diversos aparelhos electrónicos acessórios que detectam e indicam esse tipo de obstáculos, quer emitindo sons, quer vibrando. Mas devem ser vistos sempre apenas como complementos, e não como substitutos, da bengala. O mesmo não pode dizer-se, porém, do auxiliar de quatro patas. Após uma aprendizagem minuciosa seguida de treino com os futuros donos, os cães-guia para cegos levam-nos com segurança por entre o trânsito citadino, contornando obstáculos, indicando-lhes a berma do passeio e facilitando-lhes a travessia tantas vezes perigosa das ruas. Não é indispensável usarem também a bengala, embora essa prática seja recomendável.

Bengala e leitura do jornal
A lei define como cego não só aquele que não vê absolutamente nada, mas também toda a pessoa cuja acuidade visual no melhor olho não vai além dos 2% ou cujo campo de visão está reduzido a 5 graus ou menos (a chamada visão tubular). Considera-se de baixa visão toda a pessoa que no melhor olho vê no máximo 0,05 - isto é 5%.
Pode perfeitamente acontecer que um indivíduo que tenha um campo de visão pequeníssimo ou que sofra de cegueira nocturna seja incapaz de se orientar sozinho quando anda na rua sem bengala, e contudo consiga ler letras grandes de jornal dentro do seu raio de visão.

Ajudar ou não ajudar?
As pessoas cegas e de visão reduzida que viajam sem acompanhante desembaraçam-se geralmente sozinhas. Em situações difíceis, porém, aceitarão de bom grado ofertas de ajuda - por exemplo quando querem atravessar ruas, apanhar meios de transporte, em estações dos caminhos de ferro ou em pavimentos onde decorrem obras.
A pergunta «Quer ajuda?» nunca é incorrecta. Pelo contrário, qualquer cego ou amblíope ficará confuso e descontente se o atravessarem pegando-lhe pelo braço e puxando-o, sem uma palavra. Conta-se que por causa deste procedimento já houve quem fosse metido num eléctrico em que não queria viajar.

Efeméride
Em 15 de Outubro comemora-se em todo o mundo o dia da bengala branca. Em 1964 Johnson, então presidente dos Estados Unidos, entregou bengalas brancas a pessoas cegas. Foi o começo simbólico da aprendizagem sistemática de orientação e mobilidade por parte destas pessoas.